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segunda-feira, 2 de março de 2009


CRÔNICA 18


SE É DE GRAÇA, NÃO É BOM


Lembro-me de quando dei aulas de teatro em uma escola pública. Na verdade, eram vários cursos oferecidos gratuitamente para os alunos e moradores do bairro. Além das de teatro, havia aulas de dança, jazz, desenho, pintura e música, ministradas por profissionais com experiência e dadas com entusiasmo. Ao final de um semestre, o projeto da escola acabou, porque a direção verificou que o número de faltas era elevado, demonstrando pouco interesse por parte de seus alunos.
Lamentamos o término dos cursos, mas compreendemos as razões. Alunos de uma classe baixa que não podiam pagar academias de ginástica e dança nem cursos de arte perdiam aquela oportunidade. A conclusão foi fácil: como não pagavam não se importavam com a frequência e não levavam as aulas a sério.
Eles que acham normalmente que o colégio é fraco por ser público não souberam diferençar estas aulas extras das atividades curriculares. E por terem uma autoestima baixa não se sentiram merecedores de cursos bons e gratuitos, desperdiçando a chance única de estudarem artes.
Infelizmente esta atitude não é só de adolescentes. Numa sociedade capitalista, os adultos agem da mesma forma: só valorizam o que é pago, o que implica despesa. E não entendem como algo pode ser oferecido por um preço pequeno ou mesmo de graça. É claro que nada é de graça, só que o custo destas aulas era pago pelo governo estadual.
Recentemente um amigo que é pintor, mas não profissionalmente, recebeu alguns colegas do trabalho em casa. E na ocasião mostrou alguns quadros, que receberam de imediato elogios surpresos e sinceros. Quando um dos colegas, bastante entusiasmado, quis adquirir uma de suas obras, ele, hesitante, respondeu que a venderia por cem reais. Na mesma hora o colega perdeu o interesse e a devolveu, meio sem graça.
Mais tarde este meu amigo compreendeu o fato. Um quadro tão barato não poderia ser bom e não mereceria os cem reais gastos. Fiquei pensando sobre os critérios que usamos para dar valor às coisas e também - por que não? - às pessoas. Você sabe quais são os seus critérios?


Katia Sarkis

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