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segunda-feira, 30 de março de 2009

EU NÃO ESTOU OUVINDO O QUE EU ESTOU OUVINDO


CRÔNICA 43
Tenho um amiga que é vegetariana há mais de vinte anos, ou seja, há tempo suficiente para todas as pessoas de sua relação saberem que ela não come carne. Ela tem uma irmã que mora em uma cidade vizinha há três horas de viagem, a qual ela visita de vez em quando. Nestas ocasiões é comum fazer pelo menos uma refeição na casa da irmã, que por sinal é boa cozinheira. Só que a irmã sempre lhe oferece um prato de carne, como se ela não fosse vegetariana. Que a irmã faça carne não é problema, afinal ela cozinha para pessoas diferentes, o que ela não entende é por que razão a irmã insiste que ela coma carne, contrariando seus hábitos vegetarianos
A cena se repete, ela diz. Se a irmã lhe serve uma carne assada, por exemplo, ela agradece e recusa, perguntando se a irmã já esqueceu que ela é vegetariana. A irmã diz que é só uma vez e que não faz mal. Ou que ela pode fazer uma exceção e comer aquela carne que ela preparou com tanto carinho, especialmente por causa de sua visita. A irmã se mostra ofendida por ela não aceitar a carne assada ou diz que ela é mal educada ou ingrata, por não reconhecer o afeto da irmã.Algumas vezes acabaram discutindo e se aborrecendo.
Creio que esta história não seja incomum. Com certeza você conhece alguém como a irmã desta minha amiga. Ela, sim, é uma pessoa mal educada, pois, carnívora, não aceita que o outro seja diferente. Não reconhece que o outro tem direito a ter valores e princípios diferentes, inclusive alimentares.
O problema é simples, embora desgastante. Em toda refeição que as irmãs se encontram, há uma pequena ou não tão pequena discussão, por uma simples razão: uma das irmãs sofre da doença da não aceitação das diferenças ou do obsessivo desrespeito pelo outro, como queiramos denominar a estranha conduta da irmã que empurra um prato de carne para alguém que é vegetariano.
Embora este caso não tenha dimensões grandiosas, ele é um exemplo de como muitas vezes não ouvimos os outros pelo simples motivo de que não queremos ouvi-los. A irmã carnívora desta história verídica deve agir da mesma forma em outras situações, provavelmente mais sérias. Deve ser o tipo de mãe que tenta influenciar a carreira dos filhos ou escolher as suas companhias, ignorando suas aptidões e desejos. Deve ser o tipo de mulher que se veste de lingerie negra e põe um perfume especial para seduzir o marido, ainda que ele diga há vinte anos que não se sente estimulado por nenhum tipo de lingerie e que abomina qualquer perfume.
Não percamos mais tempo com esta irmã, porque ela provavelmente é pessoa que inverte as situações e deve dizer que a irmã vegetariana não reconhece seu afeto, que seus filhos não percebem que tudo que ela faz é para o bem deles e que o marido é um insensível porque não vê o romantismo de sua lingerie e o aroma irresistível de seu perfume.
Temos que ter cuidado para ouvirmos exatamente o que os outros dizem e não ouvirmos o que gostaríamos de ouvir. Respeitar as diferenças é fundamental ou qualquer convívio se torna inviável.

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