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sexta-feira, 29 de maio de 2009

TRINTA ANOS ESTA NOITE


CRÔNICA 52



Mais um casal se separa. Depois de 30 anos de casados, eles vão repensar a vida a dois,de outras formas. Para os amigos, não foi surpresa, Aliás a surpresa era o fato de não terem se separado há muito tempo. Há diferença cultural entre os dois sempre foi grande e, com o passar do tempo, só aumentou. Ele é atualmente doutor em Sociologia e ela, prendas do lar. Os amigos estranhavam a relação e comentavam as diferenças entre os dois, que no dia a dia se evidenciavam. Por educação, evitavam certos assuntos na presença dela, para não deixá-la constrangido, porque ele (todos notavam) ficava embaraçado com a falta de cultura da mulher. Já ela não se importava e acusava os amigos do marido de chatos intelectuais. Cuidava apenas de receitas culinárias e observações sobre telenovelas.
Agora ele acordou e foi embora. Como um marido do tipo antigo, deixou o apartamento e a maior parte de seu salário para a ex-mulher e seu casal de filhos, que, embora adultos, ainda dependem dele. É sempre uma questão de pagar um preço. Se permanecesse em casa, depois do rompimento, talvez não tivesse outra oportunidade de viver a própria vida e se acomodasse àquela relação insatisfatória. Indo embora, se vê como um jovem e seus problemas: procurar um pequeno apartamento, mobiliá-lo e viver com pouco dinheiro, mas, em compensação, sentir-se livre e capaz de ter um relacionamento mais maduro e mais feliz.
Ela não queria a separação, mesmo sabendo que ele já havia se envolvido com outro pessoa. Parecia que não sabia o que fazer, sem o “casamento”, ainda que este obviamente já havia acabado. Era um personagem sem peça, sem saber qual a deixa e qual a fala seguinte.
Não duvido da sinceridade de seu sofrimento. Acho até bastante razoável que entre em depressão e que procure fazer análise. Só temo que, com a pensão e a casa, ela permaneça a mesma, ou seja, não seja responsável por si mesma, como não foi durante os 30 anos de casamento. O marido foi embora, mas o pai, não.
É claro que em uma relação a dois não pesa só o nível intelectual das pessoas, mas, quando este é muito diferente, é bastante difícil que o casal se complete. Quando ele reclamou que, durante este tempo todo, ela jamais se interessou por algo de seu trabalho, ela simplesmente respondeu que o trabalho era dele, não dela, e que ela não tinha tempo para isto, pois tinha que lavar, passar, cozinhar. Ora, para nós, seus amigos, ele sempre pareceram ter uma relação anacrônica, fora dos padrões de época.
Que sejam felizes é o que desejamos, mas sabemos que agora inicia-se uma talvez longa estrada.




terça-feira, 5 de maio de 2009

QUEM RECLAMA JÁ PERDEU.



CRÔNICA 51

Há uma frase do futebol que deve ser da década de 40 ou 50, que dizia o seguinte:”Quem reclama já perdeu.” Vamos devagar. A frase foi dita para jogadores de futebol em relação a reclamações feitas com o juiz, o que no máximo resultava em expulsão. Ou seja, reclamar com o juiz é sempre um tiro no pé. É claro que em outras situações devemos reclamar, mas reclamar não só verbalmente, e, sim, agindo. Motivos para reclamar dos governos não nos faltam e como cidadãos devemos protestar, sim.
Lembrei-me desta frase por outra razão. Encontrei-me ontem com um amigo que só vive reclamando, e, pior, repete as reclamações todos os dias.Ele funciona automaticamente, basta ouvir a palavra trânsito e ele despeja um discurso; se ouvir a palavra dinheiro, lá vem outro discurso...Caso no dia seguinte, eu me encontre com ele, a lenga-lenga será a mesma. Todos implicam com ele, irritam-no para que ele inicie a infindável lamúria, só que ele, acredite se quiser, não percebe.
Há dois temas que o incomodam mais: trabalho e dinheiro. Primeiro ele abomina trabalhar, tanto que tem um emprego ao qual vai só três ou quatro manhãs. Faz tudo de qualquer jeito e falta muito, é claro. Na seção todos o julgam um mau profissional, mas como ele é simpático (apesar de reclamão), os colegas o tratam bem. Ele não sabe que é visto como personagem, com as mesmas falas, as repetidas marcações de cenas, o exaustivo enredo
Reclama dos chefes diariamente, com bordões que criticam o departamento do tipo “isto não tem jeito mesmo”, “Isto só acontece aqui”, “Não dão condições decentes ou dignas de trabalho”...Na verdade ele quer justificar o fato de trabalhar mal e pouco, como se a suposta (e não verdadeira) má administração dos funcionários superiores o inocentasse de seu desleixo e de sua falta de profissionalismo. Ele precisa acreditar que o país vai mal, que está à beira do abismo, para explicar o fato de ficar todas as tardes e noites sem fazer nada, fumando e vendo televisão.
Quando o vejo, lembro-me sempre desta frase: “Quem reclama já perdeu.” A impressão que tenho é que perdeu mesmo. Primeiro perdeu o tempo reclamando à toa; depois porque, embora não seja o caso de ser expulso pelo juiz, sua reclamação também é inútil. Sua vida só sai do lugar, quando algum parente ou amigo o ajuda, pois se dependesse só dele, sua vida seria a imagem de um sujeito de camiseta e bermuda em frente a um canal de esporte das 13h às 24h.
Você gostaria de ter alguém assim na sua equipe de vôlei de praia? De modo algum, não é mesmo? E a seu lado, como marido? E em sua firma, como sócio? E em sua associação de bairro, como companheiro? Não, não e não...
Espero que você não seja do tipo reclamador, desses que, independente do resultado da partida, sempre perdem.